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sábado, 21 de maio de 2011

ALFABETIZAR SEGUNDO FREIRE

Trecho do livro "Paulo Freire para educadores" de Vera Barreto

Certa vez uma alfabetizadora fez a Paulo Freire a pergunta com que começamos este capítulo. Paulo, de uma forma simples e objetiva, respondeu com uma carta, de onde retiramos o trecho abaixo É bom começar chamando a atenção para o poder que têm as perguntas de provocar a gente. Veja bem, agora mesmo, ao me preparar para iniciar a minha resposta à pergunta, me vejo obrigado a pensar, a ficar olhando o papel em que repeti sua pergunta: “Para que alfabetizar?”

Ao ficar assim aparentemente parado, pensando, percebo que, para responder à sua pergunta, devo entender a relação que ela tem com outras perguntas que, embora não tenham sido pronunciadas, se acham presentes. Assim, o para que alfabetizar? Tem que ver com o que é alfabetizar? Como alfabetizar? Quando? Por que? etc.

Para que? É a pergunta que a gente faz quando a curiosidade da gente se assanha para saber a finalidade da ação ou da coisa de que a gente está falando. A gente pergunta o que é? Quando quer saber ou compreender o que é que faz que pedra seja pedra e não pau; que flor seja flor e não passarinho.

Como? É a pergunta que a gente faz pra saber os caminhos que a gente percorre, os métodos que a gente usa pra obter o que se pretende.

Por que? é a indagação pela qual a gente procura a razão de ser, a causa das coisas, e quando? Tem que ver com o tempo delas.

É interessante observar como há uma certa solidariedade entre as diferentes perguntas, não importa qual seja aquela pela qual começamos a indagar da coisa ou da ação.

Agora, quando você me pergunta para que alfabetizar?, me sinto levado a dizer algo sobre o que é alfabetizar. Para fazer isso vou tentar um caminho simples e muito concreto. Veja bem, neste momento, tenho algo na minha mão. Pego a coisa que tenho nos dedos, apalpo-a, sinto-a. Ganho a sensibilidade da coisa, percebo-a, falo o nome da coisa e escrevo o nome da coisa. Assim sinto a caneta nos dedos, percebo a caneta, pronuncio o nome caneta e depois escrevo ca – ne – ta.

O mesmo, quase, se dá quando falamos palavras abstratas, só que não pegamos a significação delas. Eu não pego a saudade do Recife com as mãos. Eu sinto a saudade inteira no meu corpo. Eu falo e escrevo saudade.

Veja, a pessoa chamada analfabeta, que não sabe ler nem escrever, sente como nós, a coisa, pegando-a ou não, percebe e fala, só não escreve, portanto não lê também. Alfabetizar, num sentido bem direto, é possibilitar que as pessoas a quem falta o domínio desta operação criem este domínio. Por mais importante — e é muito importante — o papel da educadora ou do educador na montagem deste domínio, o educador não pode fazer isto em lugar do alfabetizando. A alfabetização é um ato de criação de que fazem parte o alfabetizando e o educador. O educador é fundamental. Ele tem mesmo que ensinar desde porém que jamais anule o esforço criador do alfabetizando.

É interessante observar como não podemos falar de analfabetismo em culturas que desconhecem o alfabeto, as letras. Numa cultura iletrada não há analfabetos. O “analfabeto — e isto me foi dito há mais de vinte anos por um culto alfabetizando, num Círculo de Cultura – é a pessoa que, vivendo numa cultura que conhece as letras, não sabe ler nem escrever.”

Para que alfabetizar? Numa primeira aproximação ao problema e seguindo aquele alfabetizando nordestino a quem me referi acima, poderia dizer a você: para que as pessoas que vivem numa cultura que conhece as letras não continuem roubadas de um direito — o de somar à “leitura” que já fazem do mundo a leitura da palavra, que ainda não fazem.
PAULO REGLUS NEVES FREIRE


BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. São Paulo: Arte & Ciência, 1998.

25 Atividades JUNINAS - Chegou a hora do milho, da canjica e da pamonha. Que delícia!

























Alfabeto com animais.






Alfabeto - Caligrafia













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